O dossier de candidatura vai agora ser entregue e é o culminar de um trabalho que começou há quase uma década.

O objetivo do municipio de Idanha-a-Nova é manter viva a diversidade de rituais da Páscoa, que têm lugar durante mais de dois meses.
A candidatura foi preparada pelo antropólogo Paulo Lima, com experiência em dois processos portugueses que se candidataram à Unesco (Fado e Cante Alentejano) e visa também a inscrição dos Mistérios da Páscoa em Idanha no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

Os Mistérios da Páscoa são um conjunto de iniciativas centenárias de cultura popular que se desenrolam por vários dias e em todo o concelho.
Desde a Ceia dos Doze, reproduzindo a Última Ceia, ao Lava-Pés, procissões, encomendação das almas, a via-sacra nas ruas e representações como da Maria Madalena.

Em praticamente todas estas iniciativas, a preparação e participação é exclusiva dos habitantes das aldeias.
A missa com apitos
Um dos momentos mais populares, e também ruidoso, acontece na sede do concelho, no Sábado de Aleluia.
Na celebração da missa, com aparecimento da Aleluia, cortejo pelas ruas e apanha das amêndoas à porta da casa do pároco.
Perto das 21h começa a missa.
Entra banda na igreja, a tocar, no meio de um ruído estridente de apitos e chocalhos.
O pároco, no altar, aguarda alguns minutos e depois segue para uma ala lateral e lança o incenso sobre uma cruz que se ilumina.
Entretanto, a banda sai e percorre a vila até a missa acabar.
No final da eucaristia, os populares juntam-se em frente da casa do padre, defronte à igreja. O adro fica cheio de gente e não cessa o ruído. Na dianteira da multidão, crianças e jovens ficam às cavalitas para mais facilmente apanharem as amêndoas.

Entretanto, a banda regressa, o padre aguarda à porta e cumprimenta um a um os músicos que vão entrando.
O ruído torna-se mais estridente com os populares a sinalizarem que aguardam o ponto alto.
Minutos depois, o pároco surge à porta com uma caixa cheia de sacos de amêndoas e atira os sacos para o meio da multidão. Mais tarde, é ajudado nesta tarefa por outros, gente com mais força de arremesso para os sacos chegarem mais longe…
Alguns populares conseguem apanhar os sacos intactos mas, em muitos casos, com o impacto, estes abrem-se e as amêndoas espalham-se pelo chão.

Pouco depois das 22h, a multidão desce o adro e vai para outro largo. É a vez das barracas de comes e bebes.
Atualmente, os supermercados fazem marketing, oferecendo os apitos. Mas alguns populares acompanham o apito ou o chocalho com uma caneca.