Santo Isidro de Pegões é uma aldeia rural no concelho de Montijo e tem a particularidade de ser uma obra do modernismo português. Foi planeada e construída de raiz há 65 anos pela Junta de Colonização Interna, uma estrutura que tinha como objectivo a colonização de terrenos e o desenvolvimento agrícola.
As habitações e as estruturas de apoio como por exemplo escolas, igreja, centros de convívio e sociais são marcadas por traços de modernismo.

O principal arquitecto deste projecto, único a sul do Tejo, foi Eugénio Correia.
Curiosamente, em alguns aspectos encontramos traços muito próximos com a obra de Niemeyer em Belo Horizonte.

A Igreja de S. Francisco foi construída em 1945 uma década antes da Igreja de Santo Isidro em Pegões (1957) e as linhas curvas que marcam a arquitectura dos dois edifícios é muito semelhante. Outra particularidade comum são as entradas laterais através de estruturas em forma de arco.

O mesmo se passa com a decoração do altar-mor onde a pintura de Severo Portela Júnior é também dominada por linhas curvas com a figuração de Santo Isidro, o patrono dos agricultores.
A Junta contratou vários profissionais e um deles foi Artur Bual qualificado por alguns críticos de arte como um dos melhores artistas plásticos da contemporaneidade.

Na parte da frente e na traseira há também anexos com a forma oval. As únicas linhas rectilíneas são o canteiros das flores e as janelas.

Os edifícios são de cimento estão pintados de branco e as linhas curvas têm uma pintura amarela. As escolas estão a funcionar e em redor há espaço livre e uma área arborizada.

As três casas têm linhas arquitectónicas muito parecidas com as escolas. São pequenas e estão recolhidas entre o arvoredo. Duas são das professoras e a terceira casa está atribuída ao padre.
Num primeiro olhar este conjunto parece um cenário de um conto de fadas, uma ilustração de banda desenhada, com a harmonia das cores, da paisagem e das linhas arquitectónicas da igreja, das escolas e das casas.
Sobre este conjunto de estruturas a publicação da Câmara de Montijo sobre a Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões cita o arquiteto Nuno Teotónio Pereira: …as obras de Eugénio Correia, com as suas construções em superficies parabólicas, constituíram um grito de radical modernidade que fazem delas um caso singular no panorama da arquitectura em Portugal. (…) A juntar a isso, acontece que, dentro desta forma, não muito comum no contexto da arquitectura moderna, a técnica construtiva, à base de fusos cerâmicos, lhes confere uma acrescida originalidade.

A história da Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões é um pouco diferente. De muito esforço, trabalho e em alguns casos de pouca harmonia.
A área do colonato agrícola é anexa mas tem uma disposição diferente e uma arquitectura menos arrojada. Está dispersa ao longo de uma estrada, talvez por mais de dezena de quilómetros.

As casas estão rodeadas de espaços agrícolas porque a antiga Herdade de Pegões era propriedade do Estado e foi dividida em parcelas de 18 hectares. Cada uma pertencia a uma família, tinha uma área de habitação e outra para serviços agrícolas como o alpendre, o estábulo, o palheiro e o silo dos cereais.
A cada uma das 206 famílias de colonos foi ainda entregue uma vaca, uma vitela, uma égua, uma carroça com alfaias e um empréstimo de seis mil escudos.
Estes bens eram fornecidos por um período de três a cinco anos. Caso a adaptação fosse positiva (em muitos casos não foi) os bens passavam para as famílias a título definitivo.

Henrique António também chegou a Santo Isidro na década de 50. Era motorista e trabalhava para a Junta de Colonização. Ele diz que os colonos vieram de várias regiões e alguns já tinham filhos. Eram todos trabalhadores agrícolas e semeavam milho, trigo e cevada. Tinham um mapa onde faziam a troca das sementeiras.
Para amortizarem o empréstimo os colonos entregavam um sexto das receitas do trabalho agrícola à Junta de Colonização Interna e tinham uma caderneta da CGD onde amealhavam o pouco rendimento que conseguiam.
Muitos passaram por dificuldades.

As casas entregues aos colonos há 65 anos já sofreram muitas alterações e em alguns casos de forma desajustada. As parcelas estão numeradas e Henrique António diz que as casas que mantêm a construção original são as primeiras.
As habitações estão ligeiramente recuadas da estrada. Algumas têm uma vedação ou um muro à beira da via de comunicação.

As casas são constituídas por dois blocos, um mais alto com um longo telhado num dos lados e depois um ligeiro declive no outro lado. No vértice destas linhas há uma janela. Em baixo está a porta de entrada com um recorte em arco. O outro bloco não tem porta na parte dianteira. Mais parece ser um armazém de alfaias agrícolas. Muitas casas estão rodeadas de árvores e outras têm um pequeno jardim. Neta área alguns terrenos estão plantados com pomares ou pinhal.
Entretanto as propriedades foram entregues aos colonos em 1988 e alguns acabaram por vender. Em outros casos as famílias continuam a ter actividade agrícola e pecuária mantendo a agricultura como a actividade principal da aldeia, tal como quando da sua colonização.
Hoje Santo Isidro tem mais de 1500 habitantes.
A aldeia Moderna de Santo Isidro de Pegões faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui. A emissão deste episódio, A aldeia Moderna de Santo Isidro de Pegões, pode ouvir aqui.