Os templos de Angkor são fascinantes. Um património histórico construído pelo homem tão espetacular que talvez tenha apenas comparação com Petra, na Jordânia
No plano religioso não há igual. São tão deslumbrantes como a sua história que foi inicialmente registada por um frade português para quem este é ponto máximo do génio humano.

António da Madalena andou por aqui em 1586 que ditou para o seu historiador: Angkor possui torres, decoração e todos os refinamentos que o génio humano pode conceber (…) é uma construção tão extraordinária que não é possível descrever com uma caneta. Tanto mais, que não há outro parecida.

António da Madalena terá sido o primeiro ocidental a descobrir os templos, já na era de declínio, quando a selva tinha encoberto muitas das construções.
Ele próprio não entendia como se podia ter deixado ao abandono: um dos templos é tão grande como os deixados pelos gregos e romanos e apresenta um triste contraste com a barbárie em que o pais vive no presente.

Provavelmente o frade português referia-se a uma das cinco torres do templo Angkor Wat que tem 65 metros de altura e que tem em frente um lago onde se refletem as torres provocando um efeito mais forte no cenário.
É pelo meio do lago, por um estreito, que se faz a entrada principal e se começa a ter uma percepção mais real da dimensão do complexo.
Este é o maior templo religioso do mundo, dos que está mais bem conservado e foi classificado pela Unesco como Património da Humanidade.

Foi construído no século XII. Na origem era um templo hindu e depois passou a budista.
A arquitectura Khmer domina a construção e a sua concepção (como dos restantes templos) destinava-se a ser a “moradia dos deuses“. O acesso era permitido apenas à elite política e religiosa.

A construção é em pedra de arenito, terão sido utilizadas 5 a 10 milhões de pedras e ficou concluída ao fim de 40 anos.
Muito recentemente foi avançada uma hipótese sobre como foram transportadas para aqui as pedras, algumas com mais de uma tonelada.

A maior parte das paredes estão decoradas com baixo-relevo, são narrativas de momentos relevantes do império ou retratam as dançarinas celestiais, as apsaras.
O interior pode parecer um pouco confuso porque tem várias câmaras e zonas de passagem.
Um outro templo que está muito bem preservado, e que também é um dos mais belos e enigmáticos é o de Bayon. Fica em Angkor Thom, a 1,7km de Angkor Wat e o caminho pode fazer-se a pé. Esta terá sido a última capital do império khmer.

Uma das entradas é por um estreito, rodeado de água, onde uma fila de estátuas – 54 de cada lado, à direita são demónios, à esquerda são deuses – vigia o acesso à grande cidade.

Depois encontramos enormes rostos, sorridentes, trabalhados em pedra, com 23 metros de altura. São as faces do Prasat Bayon.
Uma antecâmara que nos prepara para a composição fantástica do Bayon.

54 torres com mais de 200 rostos desenhados na pedra que retratam, talvez, o estado de sublime compaixão, próximo dos budas.
Também o templo de Bayon tem nas paredes baixos-relevos associados a momentos míticos ou do quotidiano.
Em Angkor Thom há mais templos, além do Bayon.
É o caso do Phimeanakas que tem também algum destaque.

Uma passagem extensa e que também fica na nossa memória é a do Terraço dos Elefantes.

Fica numa zona muito verdejante, um caminho que tem a representação do rosto e da tromba de elefantes.

Do outro lado do caminho estão mais templos. São de menor dimensão e ainda não foram recuperados. Numa outra área do complexo de Angkor, na East Baray e relativamente próximo da cidade de Angkor Thom fica um dos templos mais deslumbrantes: Ta Prohm.

É inesquecível. Não por ser um dos maiores mas porque foi deixado praticamente como foi encontrado. Não admira que seja um dos templos mais fotogénicos.

Árvores entrelaçadas com as paredes, a “engolir” a construção e a destruir o alinhamento das pedras devido à força das raízes. O templo esteve abandonado alguns séculos, foi entretanto retirada alguma vegetação e colocadas zonas de passagem para os visitantes.

A arquitetura segue o estilo Bayon e a construção data do séc. XIII. Foi criado como um templo budista e uma universidade.
A visita é ainda mais fascinante se for cedo ou ao pôr do sol, quando a luz provoca um efeito dourado e brilhante em todo o conjunto. Por outro lado, é quando há menos visitantes.

Há um outro grupo de templos, ligeiramente afastado do complexo de Angkor (15km) e que merecem igualmente uma visita demorada.
É em Roluos, onde outrora foi a cidade Hariharalaya, e há vestígios de construções khmers anteriores ao complexo de Angkor, com um estilo diferente e com a influência da ilha de Java.
Das várias construções, destacam-se os templos de Bakong, Lolei e Preah Ko.
O de Bakong fica num alto, com vista para um vale e poucas casas.

No caminho, estava um grupo de música tradicional.
Todos eles eram invisuais e começaram a tocar mal ouviram os nossos passos.

O templo é construído com o mesmo tipo de pedra de Angkor. No topo da escadaria está uma torre com algumas inscrições.

Nos vários terraços há figuras de animais. São estátuas grandes e de pedra (alguns representam o touro branco, que faz parte da mitologia hindu).

O Lolei é relativamente pequeno. Uma estrutura de quatro torres, construídas em tijolos. A sua construção é do séc. IX e eram dedicados à religião hindu. As torres têm uma porta falsa e as paredes estão decoradas com figuras

Ao lado do templo encontra-se um mosteiro, completamente decorado com motivos budistas.
Tons fortes, alaranjados e no interior um monge contemplava a paisagem através da janela e depois posou amavelmente para as fotos.

O Preah Ko foi o primeiro templo a ser construído e consiste em seis torres de tijolos que estão em cima de uma base de pedra. Cada uma das torres é dedicada a uma divindade hindu e as escadas de acesso estão vigiadas por estátuas representando o “touro branco” hindu.

As paredes das torres estão muito degradadas e têm inscrições e estátuas de menor dimensão representando divindades. O templo está rodeado de um amplo espaço verde, com muito poucos visitantes.
Uma das vantagens deste grupo de templos é que é bastante menos conhecido do que o de Angkor e tem muitos menos gente:
Angkor foi a capital khmer durante séculos e terá sido a maior cidade pré industrial do mundo. As guerras, as mudanças políticas e a importância cada vez maior do delta do Mekong levaram ao abandono de Angkor. Toda a área passou por uma profunda decadência, apenas alguns monges budistas permaneceram no local

Toda esta área assentava numa rede complexa de canais que permitia a sobrevivência dos milhares de habitantes que viviam nas várias cidades.
Os canais e os templos estão a ser recuperados, com equipas de especialistas e com o apoio de organizações internacionais.
InfÚteis

A base para visitar Angkor é a cidade de Siem Reap. Fica relativamente próxima do complexo de templos. Há quem faça o percurso a pé, o que não é muito aconselhável porque anda-se todo o dia a visitar os templos. Pode-se ir de bicicleta, tuk tuk ou de táxi.
Por pouco menos de 30 dólares conseguia-se alugar um carro com motorista. No meu caso, foi mesmo um dos táxis que fazia serviço no aeroporto.

Uma outra possibilidade é através de uma viagem de balão que vários operadores locais realizam diariamente.
Siem Reap era uma cidade pacata, com bons hotéis (fiquei no Royal Angkor Resort & Spa)
e uma zona de restauração muito movimentada durante o final da tarde e início da noite.

Até o mercado, o Psar Chaa, tinha um ambiente ameno.
O turismo tem registado um aumento significativo. Em 2016 teve 2,5 milhões de visitantes, o que está a retirar à cidade um ambiente descontraído e calmo.
O aeroporto tem boas condições e o custo do transporte até à cidade é muito reduzido. Seja numa van ou num táxi.
O visto é eletrónico e foi obtido aqui.
Muitos dos visitantes fazem um programa conjunto com o Vietname. Não convém circular de carro pelas estradas do Cambodja porque são perigosas.
Também não é aconselhável o consumo de água sem ser engarrafada.
A moeda é o riel e pode ver aqui o câmbio. São aceites dólares norte-americanos e em Siem Reap há várias ATMs.
Cuidado com o calor e o sol, em particular nos passeios pelos templos.
Evite os meses de maior calor, Abril e Maio. Em Outubro é provável que tenha chuva intensa.
Ver:
Kompong Phluk – o maior lago de água doce da Ásia
Galeria de fotos