Em 31 de Maio de 1988 foram encerradas as minas de Lousal, no concelho de Grândola.
30 anos depois, um feliz projeto de preservação das minas de pirites permite visitar a exploração mineira, andar em galerias subterrâneas e ter a sensação o dia a dia dos mineiros.
Uma das experiências mais interessantes é caminhar cerca de 300 metros na Galeria Waldemar a 30 metros de profundidade.

Foi a primeira galeria a ser explorada, desde 1900, logo no inicio da concessão mineira.

Os visitantes fazem o percurso numa visita guiada de duas horas que se realiza todos os dias na parte da tarde.

Caminhamos facilmente por um corredor estreito que numa parte significativa do percurso está seguro com estacas de madeira e que nos deixam ver os vários tipos de rochas.

Há algumas colónias de morcegos mas não dão sinais de incómodo com a nossa presença. Passamos ainda ao lado de dois poços que acediam aos pisos inferiores
No interior há ainda quatro galerias que funcionaram como paióis. Uma tem uma exposição fotográfica e noutra está uma mostra de pirites e ferramentas que podem ser experimentadas pelos visitantes.

Nas palavras de Margarida Oliveira, coordenadora do património de geologia, quem visita a galeria tem, deste modo, “a experiência do que é estar dentro de uma mina e vestir quase a pele de um mineiro”.

A Galeria Waldemar está na parte sul da mina. Passa por debaixo de um pinhal e vai da lagoa Vermelha até à Ribeira de Corona que não tem águas contaminadas.

A Lagoa Vermelha tem águas ácidas. Ocupa uma área significativa da corta da mina e tem uma nascente. Os lençóis freáticos passam por áreas com sulfuretos e a água fica vermelha. A lagoa recebe também águas pluviais que ficam contaminadas nas escombreiras.

Relativamente próximo está outra lagoa e esta tem cor verde. A lagoa formou-se após o fecho da mina porque deixou de ser feita a drenagem da água. A cor advém da concentração de alumínio e ferro.

É do alto da mina, do edifico da britagem, que temos uma vista de conjunto das duas lagoas no meio da exploração mineira a céu aberto.
Rochas de cor vermelha dominam nas partes mais altas e funcionam como um anel protetor da vasta área da mina.

Há meio século atrás andavam neste espaço mais de mil pessoas a trabalhar ininterruptamente. Hoje ainda temos a percepção da complexidade dessa estrutura.
Logo à chegada somos surpreendidos com a paisagem industrial, em particular com um edifício muito grande que está em ruínas e ao lado de escombreiras.

É o antigo edifício da britagem onde o minério era triturado. É um dos melhores vestígios da arqueologia industrial mineira. É um espaço procurado para sessões de fotografia de promoção de marcas internacionais e também de videoclips.

Relativamente próximo estão duas torres metálicas muito altas que suportavam os elevadores dos dois poços que transportavam os mineiros e o minério.
A manutenção e preservação desta paisagem industrial deve-se ao projeto Relousal.

Foi uma iniciativa da Fundação Vélge, proprietária da mina (com ligação à SAPEC) e integra várias vertentes: recuperação ambiental; valorizar e requalificar o património mineiro e fixar a população residente no Lousal.

A aldeia chegou a ter mais de quatro mil habitantes na altura de maior atividade da mina. Estavam agrupados em bairros, com alguma distinção de estatuto. Hoje estes bairros ainda estruturam o espaço urbano mas a população não chega às quatro centenas de pessoas. As instituições envolvidas na requalificação do Lousal dão prioridade ao recrutamento de jovens qualificados que residem na aldeia.

Antes a povoação usufruiu de infra-estruturas que estavam associadas à exploração da mina. Era o caso de fornecimento de energia eléctrica.
A central que produzia a energia e o ar comprimido que alimentava os martelos dos mineiros no interior da mina está repleta de maquinaria.

A maioria dos geradores foram importados e uma das máquinas ainda funciona. Este espaço é também visitável e foi transformado em museu.

Muito próximo do Museu está o Centro Ciência Viva do Lousal É um museu interactivo que aborda várias áreas da ciência ligadas às minas e que está inserido no património museológico da exploração mineira.
Funciona como recepção dos visitantes mas a sua principal função é de divulgação cientifica. Com o reaproveitamento de vários espaços (um dos mais interessantes é o balneário) somos envolvidos na temática da indústria mineira e na geologia em geral.

Aprendemos para que serviam as pirites, a sua extração no Alentejo e como eram utilizadas para a produção de enxofre, ácido sulfúrico e adubos.
O Centro Ciência Viva do Lousal merece uma futura visita mais detalhada.
Todo esta património arqueológico e de divulgação é complementado com outras estruturas, como por exemplo um restaurante onde ao almoço há cante alentejano.

A gestão deste património e a sua dinamização é da Associação Centro Ciência Viva do Lousal. Esta organização estabeleceu um protocolo com a CP que permite a paragem no Lousal dos comboios (mesmo os rápidos) com grupos de 10 ou mais pessoas que queiram visitar o complexo mineiro do Lousal.
As minas encerraram em 31 de Maio de 1988 por serem economicamente inviáveis. Os custos de produção não eram competitivos e surgiram novos produtos de enxofre.
O ponto alto da extração mineira no Lousal foi na década de 50 do século passado.
A história do Lousal é similar de outras minas de pirites do Alentejo, como são o caso das Minas de S. Domingos, no concelho de Mértola, que merece também uma visita futura. As duas minas fazem parte da chamada Faixa Piritosa Ibérica com uma extensão de mais de 200 km, entre as regiões de Setúbal e Sevilha.
Lousal: um bom exemplo de arqueologia industrial faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Lousal: um bom exemplo de arqueologia industrial, pode ouvir aqui.
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