O percurso na zona ribeirinha de Sarilhos Pequenos ao final da tarde é num ambiente romântico.
A água do Tejo, pequenos barcos ancorados, dois homens a apanhar amêijoa e no horizonte o lusco-fusco cintila com as luzes das casas.

No cais de acostagem estão algumas embarcações tradicionais do Tejo e vale a pena entrar no areal para ver os detalhes das pinturas dos barcos tradicionais. Enfeites coloridos com desenhos de flores do Mariana ou do Ponta da Marinha que está pintado de amarelo torrado.
É esta a vivência próximo do local onde antes havia um moinho de maré e que é um dos nove pontos do Percurso Interpretativo do Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos.
O estaleiro é o único a trabalhar em madeira no estuário do Tejo, recupera e constrói embarcações tradicionais e foi adquirido em 1955 pelo mestre Jaime Ferreira da Costa.
Agora é o filho que toma do conta do estaleiro, o mestre de carpintaria naval Jaime Costa que gosta de receber as visitas.
Os trabalhadores acompanham os visitantes e explicam o trabalho que estão a fazer.

Pode-se ver o lugar onde a madeira fica a secar, a sala do risco onde os mestres traçam o desenho das peças, a serração e a área de construção e recuperação. Jaime Costa criou também um núcleo expositivo com peças antigas da carpintaria naval artesanal.
Chegar à conversa com o mestre torna a visita muito mais enriquecedora por que é uma personalidade interessante e entusiasmada com a sua profissão.

Começou a trabalhar no estaleiro com 12 anos e sempre ao lado do pai. Agora é ele o responsável e diz contar com uma equipa de excelentes profissionais (quatro carpinteiros, um calafate e um aprendiz).

Há várias gerações que a família se dedica à carpintaria naval embora, agora, ele seja o último a continuar nesta atividade.
A família é originária de Pardalé, no concelho de Estarreja e o pai e mais três irmãos eram carpinteiros navais.
Jaime Costa já ultrapassou os 70 anos de idade e maioria das pessoas que trabalham com ele também já se aproximam da idade da reforma.

O objetivo é captarem gente mais nova, já recrutaram algumas pessoas que estão a aprender a profissão. Segundo ele diz os mais novos têm sido uma ajuda na resposta às solicitações de reparação e construção de barcos tradicionais que surgiram nos últimos tempos e que permitem contratos a médio prazo.
Construíram uma réplica do Bote Leão para a Câmara de Alcochete.

Agora têm em mãos um outro desafio, a construção de uma Muleta.

É um barco tradicional do estuário do Tejo que há cerca de um século deixou de ser construído e parou a sua atividade de pesca por volta de 1930.

A réplica que estão a construir baseia-se no arquivo e gravuras de um livro do Museu da Marinha e é para a Câmara Municipal do Barreiro. Quando da reportagem a previsão era lançar a Muleta ao Tejo neste mês.

A história do estuário do Tejo no estaleiro naval de Sarilhos Pequenos faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, A história do estuário do Tejo no estaleiro naval de Sarilhos Pequenos , pode ouvir aqui.
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