Os castelos de Alcoutim e de Sanlúcar confrontam-se na linha de vista e no passado estiveram mesmo em Guerra. São estruturas militares concebidas para defender a fronteira entre os dois países. Hoje é o contrário. São postais ilustrados para seduzir visitantes dos dois lados da fronteira. Nos últimos anos até se faz a travessia de barco para se regressar de slide. Na Tirolina.

Há 20 anos que atravessa o Guadiana e hoje diz que é um hábito difícil de deixar.

As luzes das ruas acendem e apagam na mesma altura, apesar da diferença horária. Os sinos tocam com um ligeiro desfasamento. Julgo que é propositado. A maior diferença é a “siesta” que não correspondência do lado português.

Pelo que testemunha Júlio Cardoso é muito maior a influência lusa em Sanlúcar do que o contrário. Muitas famílias são de origem portuguesa e as mais idosas até falam com o mesmo sotaque do interior da Serra do Caldeirão.

Vale a pena contemplar durante várias fases do dia o Guadiana e Sanlúcar a partir de Alcoutim. Do alto do castelo a vista é ainda mais interessante porque conseguimos ver dezenas de veleiros que estão no Guadiana a esperar por melhores condições para atravessarem o Atlântico.

São embarcações provenientes de todos os continentes que “fazem do Guadiana o último porto de abrigo na Europa Continental”. Alguns acabam por ficar aumentando o número de estrangeiros que vivem nesta região e que reforça o ambiente multicultural.
Outra nota curiosa é que muitos estrangeiros que residem no Algarve escolhem Alcoutim para visita quando recebem familiares e amigos porque consideram que é um lugar genuíno.
Nas últimas duas décadas tem sido esta a aposta de Alcoutim, ter uma oferta complementar ao sol e praia. O destaque é o castelo do século XIV e tem um núcleo de arqueologia. Sem esquecer a excelente vista.

Além do centro histórico há ainda fora da vila o Castelo Velho de Alcoutim, as ruínas romanas do Montinho das Laranjeiras e os Menires de Lavajo.
O Castelo Velho é da presença islâmica e fica no alto de Santa Bárbara.

Os Menires de Lavajo são constituídos por dois núcleos e um deles é visitável. Fica próximo de Afonso Vicente e terá sido um espaço sagrado dois a três mil anos antes de Cristo.
O Montinho das Laranjeiras fica mesmo junto ao Guadiana e as ruínas são de origem romana. A ocupação só foi interrompida 12 séculos depois, provavelmente com a Reconquista.
O património natural do concelho de Alcoutim é uma das mais valias deste território. A serra, o interior – que é uma fusão com paisagens alentejanas – e o rio Guadiana são lugares de passagem para muitas caminhadas e roteiros pedestres que percorrem uma parte significativa do concelho.

O rio tem um estatuto especial porque foi a principal via de comunicação, uma secular rota comercial e também um pólo de cultura associada à pesca, à gastronomia e aos barcos. No Museu do Rio, em Guerreiros do Rio, encontra retratos desta cultura que, em alguns aspectos, está a desaparecer.
Tirolina
Uma forma recente de atravessar a fronteira e o Guadiana que tem sido atracção para visitantes é a “tirolina”, um cabo que liga Espanha a Portugal.
Em cerca de 50 segundos. Num instante saltamos da colina do castelo de Sanlúcar de Guadiana para um vale em Alcoutim. Percorremos 720 metros e atinge-se a velocidade máxima próximo dos 80km/h.

Conforme diz o Óscar, que costuma dar as instruções, “é tudo muito fácil, As duas mãos presas no suporte metálico, pés juntos, pernas esticadas para cima na saída e depois baixar as pernas”.

A seguir dizem “bye bye” e segue-se o barulho do vento e do contacto da estrutura metálica no cabo. O silvo varia consoante a velocidade e passa rapidamente para segundo plano quando passamos por cima da serra e temos um plano invulgar do Guadiana. As margens de inicio parecem muito distantes mas atravessamos o rio num abrir e fechar de olhos.
Entramos em Portugal, vemos a bandeira hasteada na estrutura metálica que vai travar com suavidade a nossa descida.

É tudo tão rápido e invulgar que precisamos de revisitar as sensações. É por isso que quando se olha para cima, para a cabine donde partimos, nem se acredita que já terminou. Segundo o Óscar, o comentário habitual é “Oh my God!”. Até dá vontade de repetir.

O ponto de chegada em Alcoutim está a cerca de 25 metros de altura. O local de saída em Espanha está a 100 metros. Quando se tem uma visão de conjunto a noção de distância e de altura do cabo parece maior e diz o instrutor que algumas pessoas manifestam evidenciam nervosismo e a pergunta frequente é: “qual a velocidade que se alcança?”.

A ligação por barco entre Alcoutim e Sanlúcar é muito rápida. À chegada estão os escritórios da Limite Zero que depois fazem o transporte num jipe para a zona do castelo onde se tem uma vista magnifica do Guadiana e de Alcoutim.
Se pretende fazer a Tirolina ao fim de semana é quase obrigatória a reserva online. A Tirolina funciona de quarta a domingo. Em Junho deste ano, quando fiz a descida, o bilhete custou 18€ e inclui o custo da travessia do barco (que é reduzido: 2.5€ ida e volta).
O “slide” transfronteiriço de Sanlúcar a Alcoutim faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, O “slide” transfronteiriço de Sanlúcar a Alcoutim, pode ouvir aqui.
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