Sinta-se em casa na estação de comboios de Caminha

Uma casa típica portuguesa. Vamos esperar o comboio como se estivéssemos em casa. É este o conceito que podemos inferir das pequenas estações de comboio que foram construídas há cerca de um século e que encontramos em vários lugares do pais. Caminha é um bom exemplo.

Estação de Caminha ©Antero Pires
Estação de Caminha ©Antero Pires

Paula Azevedo, arquitecta da Unidade de Património Histórico e Cultural da IP Património, descreve-a como uma estação de passagem com um único corpo central com dois pisos. O segundo era a residência do chefe de estação e o rés do chão a sala de espera. Os dois edifícios laterais são mais pequenos e térreos. Num deles funcionou o telégrafo e agora é o gabinete telefónico.

Estação de Caminha ©IP Património
Estação de Caminha ©IP Património

A estação está pintada de branco, com portadas em pedra e arredondadas e decorada com cerca de cinco mil azulejos da autoria de Gilberto Renda. Estão em lambrins exteriores. Há ainda azulejos padrão no interior, na sala de espera.

Gilberto Renda

Os mais interessantes são os 20 painéis figurativos de Gilberto Renda, fabricados na cerâmica Sant’Anna de Lisboa em 1930. Retratam paisagens, etnografia e monumentos ou praias como a de Moledo.
Gilberto Renda ilustrou vivências que registam cenas de um passado não muito distante como por exemplo a feira na praça de Caminha.
Um dos azulejos de Gilberto Renda ©IP PatrimónioOs azulejos foram restaurados em 2016. A estação faz parte da Linha do Minho e foi inaugurada em 1878.
O conjunto já sofreu profundas alterações e algumas estruturas da antiga estação desapareceram. Paula Azevedo relata que o edifício da estação de passageiros passou por várias fases e mantém a volumetria.

Imagens antigas da estação de Caminha  ©IP Património
Imagens antigas da estação de Caminha ©IP Património

O cais coberto para o embarque de mercadorias foi demolido e deu lugar a um parque de estacionamento.
“Era muito bonito. Pedro Vieira de Almeida dizia que era um “corvo”. Também desapareceram o depósito e a toma de água.”

Já não existem testemunhos da época do comboio a vapor.

Além de ser um edifício bonito há ainda a salientar o enquadramento paisagístico com o rio Minho e a ponte sobre o rio Coura. “É um sitio onde se pode esperar o comboio.”

Prémios das Estações Floridas  ©IP Património
Prémios das Estações Floridas ©IP Património

A estação tem ainda pequenos espaços ajardinados próximo do cais que no passado lhe valeram vários prémios conforme se prova nas peças de cerâmica colocadas numa parede lateral, onde se anuncia a chegada a Caminha.

São três azulejos que revelam o primeiro, segundo e terceiro prémio, entre 1945 e 1947, no concurso das estações floridas promovido pelo Estado Novo.

Paula Azevedo
Paula Azevedo

Pode ver aqui informação detalhada sobre azulejos na rede ferroviária.
Sinta-se em casa na estação de comboios de Caminha faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo