O Camões é um dos quatro bairros ferroviários no Entroncamento e em breve vai ter vida nova. Há um projecto de reabilitação das 32 moradias que têm um valor patrimonial relevante porque é o primeiro exemplo da “cidade jardim” adaptado a Portugal.
As casas têm um pequeno jardim ou quintal e as ruas arborizadas. Ao lado, próximo da estrada está a Escola Camões, um edifício grande, com um enorme jardim e no interior é ainda possível ver a decoração com azulejos.

No tempos áureos foi um colégio para formação técnica dos trabalhadores dos caminhos de ferro e também para os jovens do Entroncamento.
O Bairro Camões está a fazer quase um século. Foi construído em 1926 e além da arquitectura modernista da autoria dos arquitectos Cottinelli Telmo (também cineasta, realizador do filme “A Canção de Lisboa”) e Luis Cunha, tem a particularidade de ter a Escola Camões.
Muitas casas e a escola estão desocupadas. Taparam portas e janelas e a escola Camões, que também vai ser sujeita a restauro, foi vandalizada.
José Oliveira é ferroviário, vive no bairro há 40 anos.

Lamenta que o estado a que chegou a escola e reconhece que para evitar a repetição na área residencial foi necessário tapar os acessos às moradias desocupadas que são a grande maioria.Das 32 habitações só três estão ocupadas. Cada família vivia num piso mas antes as casas pertenciam a engenheiros e pessoal qualificado da Companhia dos Caminhos de Ferro e alguns ocupavam os dois pisos.
As casas estão concentradas em quatro ruas muito arborizadas e as que estão habitadas revelam o gosto da casa jardim do arquiteto Cottinelli cujo nome está inscrito em azulejos numa parede do colégio, próximo da entrada do bairro que funcionava como um condomínio fechado.
José Oliveira recorda-se de haver um funcionário da CP na entrada que só deixava entrar quem tivesse um cartão.
Esta entrada estava ladeada de duas estátuas de mochos que, entretanto, desapareceram mas continuam nas memórias de Amílcar Graça. Por isso chamavam ao Camões o “bairro dos mochos”.

Amílcar lembra-se bem porque andou a estudar na Escola Camões e formou-se como jogador de futebol no campo ao lado da Escola, que era do Ferroviário. Amílcar jogou aqui cerca de uma década e depois foi para Setúbal onde foi jogador profissional durante dois anos. Era guarda-redes.

As instalações do Ferroviário também estão abandonadas como muitas outras habitações ao longo da avenida quase até ao final, onde está o Museu Ferroviário e um outro bairro.

É também fechado e tem o nome de Bairro do Boneco. Muitas das casas onde viveram os ferroviários estão fechadas com a vida a expressar-se apenas nas plantas que ainda continuam a decorar o que eram os jardins das habitações e a afirmação de modernidade.Nova vida para o bairro ferroviário Camões faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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