A barragem de Picote, no concelho de Miranda do Douro, foi a primeira no Douro Internacional e foi uma aposta de modernidade. Na região pobre e marginalizada de Trás os Montes surgiram novos saberes e práticas científicas e também inovação e arrojo com arquitetura moderna.
O empreendimento chegou a ter mais de seis mil pessoas a viver na zona habitacional, a três quilómetros da barragem, no Barrocal do Douro.

A albufeira fica num vale escarpado, com o rio Douro a ser estancado entre enormes arribas. A zona residencial é um pouco acima, num pequeno planalto.

Das mais de seis mil pessoas que viveram aqui hoje há apenas algumas dezenas. “Pouco mais de 30 pessoas”, diz Margarida Vale que veio para cá com cinco anos de idade.
“No Verão costumam vir famílias que estão emigradas porque aqui não havia trabalho. Foram para França, Suíça, Espanha. Outros estão no Porto ou em Lisboa.
Todos eles vão este fim de semana (20 e 21 de Julho) à festa anual dos trabalhadores da construção da barragem. É a celebração do esforço humano para construir e manter o Barrocal do Douro. Era um sítio ermo, perdido no nada. Apenas Picote como terra vizinha.

Quando chegaram tiveram de improvisar um lugar para dormir. “Aqui era uma coisa desgraçada. Havia cinco ou seis mil pessoas a trabalhar e por essas ribanceiras abaixo era só casas de pedra com telhas e outras coisas em cima”.

Ainda são visíveis alguns vestígios destas casas no meio das pedras.
Margarida também viveu numa destas casas improvisadas – “havia vários bairros e num monte próximo, onde só há pedras, construíram quatro paredes e tapavam com os sacos do cimento que vinha para a barragem. Não chovia no interior porque eram muitos sacos e aquilo ficava duro. Algumas tinham telhas e era o Sr. Padre Telmo que os ajudava a conseguir as telhas. O sr. Padre Telmo não podia ver ninguém mal. Olhe que ele chegou a dar roupa dele e ficava só com a batina. Via a fraqueza de muita gente. Aquele tempo foi muito duro.”
Margarida refere-se ao Padre Telmo Ferraz que é uma referência para os trabalhadores pela forma como os auxiliava. Próximo da capela está registado numa lápide este apreço. Antes, num livro muito arrojado para a época e muito realista pelos testemunhos, deu a conhecer a pobreza e as doenças dos barragistas, as pessoas que vieram de fora para construir a barragem.
O livro O Lodo e as Estrelas (Edição da Casa do Gaiato) chegou a ser proibido mas com a Liberdade foi feita uma nova edição em 1975. “Eles não gostaram do paleio do livro mas aquilo era certinho. Tinha lá tudo, tudo.”
Muitas destas pessoas passaram depois a viver em casas de madeira provisórias ou em três bairros que, de certa forma, ainda perduram.

O Bairro Verde é de casas de madeira com base em granito. Seriam casas temporárias para os operários, mas tinham água canalizada e aquecimento. O Bairro Branco fica um pouco acima. Desde a sua origem que se trata de habitações permanentes e ofereciam também boas condições de habitabilidade. Destinavam-se a trabalhadores especializados.
Os bairros branco e verde estão ocupados, mas muitas casas são de segunda habitação.
Em 1991 passaram o comando das barragens para a Régua e foi quase o final da presença de técnicos e trabalhadores.
As casas estão em banda, algumas têm jardins e estão numa zona plana próximo do “Centro Comercial”.

Agora funciona aqui o Centro de Acolhimento Juvenil da Câmara Municipal de Miranda do Douro mas foi construído para servir de “mercado abastecedor” ao Barrocal do Douro. É um edifício grande e destaca-se igualmente pela chaminé da antiga padaria. . Vendiam “carne, peixe, vinho, fruta… e até tinha barbeiro. Vinham pessoas de fora também comprar. Não faltava nada”. Tinha também um centro de saúde.

Falta falar do terceiro bairro. Era o dos engenheiros. Está abandonado. É constituído por várias casas de dois pisos todas com arquitetura moderna. Muito bonitas e com um enquadramento fantástico. São propriedade da EDP.
É um lamento o estado em que estão, abandonadas e vandalizadas. Fazem parte do chamado Moderno Escondido e merecem uma visita mais cuidada.

A obra dos homens no Barrocal do Douro faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
serfim da silva desculpe pelos erros
estive no bairro dos pobres com os pais en 1958
conheci bem o padre telmo.
agora estou na frança desde 1960, este ano estive quo padre telmo e ele tem 93
anos bondia a todos que estiveran nessa escola
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La Richesse de Barrocal et de son Barrage, ce sont les Femmes et les Hommes qui ont tout donné pour y arriver.
Un Grand respect pour ces personnes qui méritent une grande reconnaissance pour leurs qualités Humaines que j’ai pu voir.
Claude
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Os meus pais estiveron en picote no ano 1958.
Eu e os meus manos fomos a escola no bairro du barrocal
Agora estamos na frança a 60 anos.
Bon dia a todos.
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Olà,sou frances e tenho uma grande admiracào pela Mulhères e Homens de Barrocal que construiram esta Barragem.
Uma grande Dignidade e grande pobreza ,mas sempre com coragem e respeito pelos outros entre “Barragistes”
Capaz de partilhar o pào com os mais pobres, sem se queixar , e com grande vontade.
Claro,un pensamento e muito obrigado ao Padre Telmopor todo o que fez aqui.
Claude
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Bonjour
Je voudrais savoir le jour de la faite en 2021
Si elle a lieu.
Seraphin
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