Viajante viciado tem duas particularidades: um bloco de notas e o desejo de regressar. Nem que seja em memória.
Antes da Internet, das redes sociais e da indústria do turismo massificada pelos vários continentes era muito diferente viajar para alguns destinos exóticos, com poucos turistas e fechados em “cortinas politicas”.
De viagens feitas há mais de 20 anos ficam estas memórias.
Quando a China era analógica
A maior viagem que fiz à China foi em Março de 1988 e aos olhos de hoje tem a virtualidade de ter descoberto um país fechado onde ainda tocavam nos cabelos louros de uma mulher porque nunca tinham visto uma ocidental. A China ainda estava atrás da muralha.
A velha Índia
A Índia é um caso particular. Nunca se esquece, goste-se ou não. Em 1988 era um país de contrastes gritantes.
Tive de fugir de uma rua de mutilados, como também gostaria de ter ficado uma eternidade em Fatehpur Sikri, ou andar semanas de comboio a percorrer todos os lugares.
Esqueces o Nepal?
A viagem ao Nepal foi em dezembro de 1988. É uma das viagens inesquecíveis.
Percorremos a região de Kathmandu e fomos até ao Sul, próximo da Índia, a Chitwan: onde os rinocerontes vão roubar cenouras.
Coreia do Sul ainda tem o Paralelo 38
É surreal. A reacção é contraditória. Por um lado, a estupidez humana, com homens em forma de estátua a apontarem uns aos outros o ódio e a ameaça bélica. Por outro lado, dá vontade de sorrir perante a cenografia/coreografia ridícula, pior do que a recriação de um duelo nos westerns.
Cuba antes do boom turístico
A embaixada de Espanha em Havana estava ocupada e cercada por militares. Diziam que eram foragidos. Um taxista não teve medo de dizer o que se passava de facto e de narrar a fomra como decidiram o seu futuro. Em Varadero uma mulher escondeu a oferta de roupa e de canetas com medo de represálias. Jurei não voltar a Cuba.
Filipinas
De Manila a Puerto Galera para fazer um piquenique nas montanhas e ver as Tamarraw Falls . Sem agenda nem Norte.
Japão
Descoberta de Tóquio como no Midnight Cowboy. Sentir Nagasaki e a estupidez da Bomba e uma viagem na Sagres até Tanegashima.
Maldivas por acaso
Fugi da guerra no Sri Lanka e fui comer papaia em Male, depois de uma noite mal dormida com os cocos a caírem na chapa de zinco da casa. O dono gostava dos portugueses, da passagem que tiveram pelas Maldivas na época dos Descobrimentos e estranhava o nosso desaparecimento.
Sri Lanka e a amante do governador
Era grande a nossa expectativa na visita ao Sri Lanka. As referências que nos foram dadas eram excelentes. Escolhemos o Sri Lanka para descansar. Praia, comer e dormir. Em Dezembro de 1988 não foi bem assim.
Venezuela, sem regresso….
Depois de uma caminhada de alguns minutos, regressámos ao centro comercial ao lado do hotel em Caracas. Quando demos os primeiros passos no túnel, o vigilante levantou-se e colocou a caçadeira em posição. Não precisou de perguntar. Meia volta de regresso ao hotel e o jantar foram bolachas.